Primeiro Capítulo
De volta a casa em que fui criado, sinto-me só, com a
nostalgia de minha infância. Ainda estão cobertos de poeira e lençóis de seda
os móveis, uma tentativa de preservá-los, após a recente morte de minha mãe D.
Kátia Chau. É verdade que passei muito tempo longe, não me dei conta de como os
anos na Europa haviam me envelhecido, me olho agora no antigo espelho veneziano
de moldura arredondada nas pontas, em frente a janela principal, que se
encontra com os vidro um tanto embaçados. Meus cabelos grisalhos aos lados, o
rosto com expressões finas e vagas, em meio a algumas rugas e o semblante rude.
Cá me encontro, senhor Santiago Gouveia, aos 30 anos.
Não posso dizer que não tive grandes amores, não foram
muitos, admito, mas nenhum, como a menina da casa que agora avistava ao fundo
do reflexo, minha vizinha, grande amiga, menina dos cabelos encaracolados, pele
morena, olhos envolventes e verdes, sapeca, Ana. Impossivel descrever o que ela
foi para mim, e o que me fez, sentir minha primeira descoberta de adolescente,
de um menino, consentindo com o seu eu homem, o primeiro amor verdadeiro, que
tinha gosto de espírito de criança, o mais puro dos amores.
Demorei a descobrir que a amava, não sabia o que era amor,
aquela, tão pequena, colocava-se em um vestido amarelo de rendinha, e eu
esperava na porta de madeira, para ouvi-la, me chamar. Ia logo contando, quais
eram seus planos pras nossas travessuras, dois criançolas. Mas em uma vaga
tarde de setembro, foi quando ouvi certa conversa de um professor, amigo de
minha mãe, falavam sobre amor, como era descobrir tudo isso, parecia sábio e
convincente em suas palavras, ia me entretendo, quando ouvi uma doce voz me
chamar, havia estremecido, minhas pernas ficaram bambas, ia ao seu encontro
devagar, a garganta arranhava, estava ao seu lado, pálido, agora me restava uma
duvida, eu amava Ana, Ana amava-me?
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